domingo, 29 de abril de 2012

Capítulo 26 – Você tem novas mensagens

Quarta-feira. Meio da semana. Para Lua era o dia que representava a véspera da sua mudança. Os efeitos colaterais disso foram dos mais diversos, frio na barriga o dia todo, ânsia de vômito, coração apertado, incerteza e o diabo a quatro. Para Arthur, hoje é o dia em que vai ao ar um programa bem simples e comum até, mas que pode mudar uma porção de coisas. Todas relacionadas a Lu, claro.
Cora’s Interview é o programa que foi gravado no mesmo sábado em que eles tinham uma certa festa pra ir depois e contou com a participação mega especial do McFLY.
Logicamente, Arthur sabe o horário do programa, oito da noite. Porém, eram cinco da tarde e ele já não tinha mais unhas. Mas também... Lua saiu de lá dizendo que ia substitui-lo por um canadense bom de cama! Não é coisa que se diga! Se quiser ver um homem aflito é só dizer que vai substituí-lo... É o mesmo que dizer a uma mulher que ela está gordinha. Provoca uma inquietação aguda que não nos deixa pensar em mais nada.


- Dona Lua Blanco! Pode começar a explicar onde você se enfiou! Não é por que sua mãe não está em casa que você pode fazer o que quiser, ouviu?! – Melanie foi falando assim que Lua chegou em casa. Rayana e Sophia estavam na sala jogando video-game.
- Eu tinha que resolver umas coisas, nada demais. – ela abanou o ar e mostrou sua intenção de subir a escada, mas Mel ficou no caminho.
- Ah, você não vai se trancar no quarto antes de contar umas coisas pra gente!
- É Melanie, segura ela aí que eu já vou! Espera só eu ganhar da Sophia aqui!
- Não vai ganhar merda nenhuma! Eu não vou deixar você desempatar!
Sophia e Rayana permaneceram disputando o jogo enquanto Lua era encarada por Melanie.
- Ah, me deixa subir logo e tomar um banho! Eu juro que nunca mais saio de casa se você não quiser! – Lu uniu as mãos em frente ao rosto e começou a pedir exageradamente. Mel cedeu e Lua lhe deu um beijo no rosto antes de passar.
- SE VOCÊ DEMORAR A GENTE TE ARRANCA DO SEU QUARTO! – Melanie gritou quando Lu já estava no topo da escada. Ela sentia as pernas bambas ainda por causa do acontecido na casa de Arthur. Aquela tarde tirou as energias dela: Sofá-Cozinha-Brigadeiro-Quarto-Música-Co-res-dan-çan-tes-no-t-e-t-o... letras desenhadas nas costas. Sim, havia entendido as letras. Com um pouco de concentração, ela ainda conseguia sentir os traçados daquele toque, como uma delicada tatuagem invisível.
No andar de baixo, puderam ouvir a porta do quarto bater devastadoramente e sandálias de salto sendo arremessadas de qualquer jeito no chão. Essa é a nossa Lu.
- É o seguinte! Arthur quer que a gente esteja às seis horas no apartamento dele pra sair todo mundo junto. Não vai dar tempo esperar a Lua sair daquele quarto porque quando ela quer fazer hora lá, ela consegue. – Rayana jogou o joystick pro lado assim que Melanie se aproximou do sofá. Sophia fez o mesmo e as três ficaram se encarando. Melanie bufou com um ‘S’ desenhado na boca. Elas levaram algum tempo pensando em como não estragar todo o plano de uma noite Aguiar perfeita.
- Vão vocês – Soph falou de repente – Vocês vão na frente e eu fico aqui pra perguntar pra ela o que houve e tentar fazê-la assistir o programa.
- Mas e você? Como vai pro Parque Vermonn depois? – Ray se levantou e pegou os joysticks pra guardar.
- Vocês podem pedir pra algum dos garotos ficar lá me esperando.
- E o que você vai dizer pra Lu? Aonde eu e a Rayana poderíamos ir de repente sem vocês duas?
- Que o Pedro e o Chay foram seqüestrados por elefantes amarelos da calda roxa e vocês estão indo salvá-los? – e essa é a nossa Soph, imaginação poderosa.
- Hum... diz só que eles ligaram. – Ray abanou o ar e saiu junto da irmã. Pedro estava passando para buscá-las. Sophia foi até a cozinha pegar um pote de sorvete pra esperar que a amiga descesse e contasse sobre a sua tarde misteriosa. Ninguém sabia ainda onde ela esteve e isso era perturbador pra quem ocupa o cargo de melhor amiga.




- Arthur se você quer furar o chão, vai lá pro seu apartamento, ok? – Micael segurou Arthur pelos ombros, o cara andava de um lado pro outro sem parar. Eram seis horas. Um belo começo de noite de quarta-feira com temperatura estável, céu delicadamente colorido e ventos fortes espalhando o otimismo de Arthur. Daqui a duas horas começa um programa na tv muito importante pra ele!
A campainha tocou.
- Promete que se eu te soltar você vai ficar paradinho? – Micael brincou e Arthur rolou os olhos.
- Abre logo cara, devem ser eles! – Chay falou sentado no sofá e sacudindo o pé num sinal de impaciência.
Micael foi abrir a porta e entraram Rayana, Melanie e Pedro.
- Um. Dois. Três... ta faltando uma goiaba nessa cesta! Cadê a Sophia? – Micael cruzou os braços olhando os três que entraram.
- Ela ficou lá e pediu que alguém a esperasse aqui – Rayana explicou.
- Lá onde? E por quê? – Arthur perguntou todo agitado. Estava lutando contra o próprio cabelo, não conseguia deixá-lo do jeito que queria.
- Lá em casa, Aguiar! – Melanie se deixou cair no sofá ao lado de Chay e este passou um braço pelo ombro dela.
- É porque a Lua só chegou agora há pouco, nós não sabemos onde ela estava! Sophia ficou com a tarefa de perguntar sobre isso e depois convencê-la com aquela conversa de ficar em casa hoje e assistir um programinha de tv enquanto todas nós saímos com nossos namorados...
Quando Rayana comentou sobre não saberem onde Lua passou a tarde, Arthur ficou vermelho.
- Err... então ta! A produção do programa quer que eu esteja lá no parque um tempo antes do horário pra fazer passagem de som, testar iluminação, câmeras, essas coisas, vocês sabem. – Arthur se apressou em deixar o apartamento e os outros foram atrás. Micael ficou pra levar Sophia depois.


Lua chegou na sala quando Sophia já tinha quase terminado o pote de sorvete de flocos. Ela estava lá silenciosa e Lu chegou acordando Soph de qualquer pensamento em que estivesse mergulhada.
- Cadê as meninas? – Lua estava em pé atrás do sofá e apesar do tom suave da voz, fez a amiga estremecer de susto.
- Receberam chamados urgentes de Pedro e Chay.
- Hum... E você ta fazendo o que aqui nesse silêncio, com a tv desligada?
- Dizem que comer assistindo tv engorda. Então eu não to assistindo tv! – Soph deu de ombros.
- Ah, muito eficaz...
Lua sorriu fraco e sentou ao lado da amiga. Em dias normais ela iria rir litros com as coisas que Sophia diz, mas hoje não era um dia normal.
- Ta tudo bem? Quer sorvete?
- Sim, não.
- Mas hein?
- Sim, ta tudo bem e não, não quero sorvete.
- Ah... Você vai ficar em casa hoje?
- Vou e achei que vocês iam ficar comigo. Porra é minha última noite aqui, cadê minhas amigas?
- Ah, Lu! Desculpa aí, mas ninguém ta botando muita fé, a gente acha que você vai voltar logo.
- Puxa, obrigada pelo apoio. – Lua ergueu as sobrancelhas e abraçou os joelhos. Queria poder pular aquele momento e ir logo pro aeroporto, se era pra ficarem assim...
- Essa tarde a gente podia ter passado juntas. Ficamos todas aqui te esperando, você disse que ia devolver um negócio do Arthur rapidinho e só chegou quase de noite! Depois reclama que as meninas saíram... A gente só quer que você fique numa boa.
- Mas vocês não sabem o que é preciso pra eu ficar numa boa!
- Ficar com o Arthur? – Sophia falou quase pra dentro e com mais ar de pergunta do que de resposta. Foi o medo da reação de Lua! Mas ao contrário do que ela pensou, a amiga fez um olhar calmo e compreensivo.
- Soph, a minha vida não depende de com quem eu fico. São as escolhas que eu faço e eu entendo que vocês podem sentir a minha falta quando eu me mudar, mas é uma escolha minha! Ninguém pode querer interferir nisso porque o que tiver de ser, será.
- Mas isso não nos impede de tentar, certo? – Sophia torceu a boca e Lua só rolou os olhos. Houve um abraço e olhos úmidos.
- Tudo bem Lu. Amanhã eu prometo que todas vamos estar aqui pra você, seja lá o que for decidido. – Sophia falou ao se afastar e Lua só concordou com um aceno de cabeça. O silêncio voltou a se espalhar por ali, como um vapor entrando e se espalhando pelo cômodo. Lua não conseguia tirar Arthur da cabeça. Pra tudo que ela olhava, tudo que ela pensava, sempre acabava nele. Era como se todos os caminhos que ela escolhesse pra se distrair resultassem nele, assim como os rios acabam no mar.
- Onde você se enfiou essa tarde toda? E que marca é essa no seu pescoço? – Sophia perguntou de repente e Lua apenas a encarou. Agora até a própria amiga estava começando uma conversa que ia terminar nele.
- Que marca? – preferiu se desviar da primeira pergunta, se bem que as duas têm quase a mesma resposta.
- Tem um vermelhinho aqui – Sophia se aproximou apontando o local e Lua recuou cobrindo com a mão.
- Ah, deve ter sido picada de mosquito. – esse mosquito tem um nome, e não é o da Dengue.
- Foi um mosquito mutante então, pra deixar uma marca dessas! Veio da Amazônia? Oh céus! Será que foi uma abelha? – Sophia viu outros pontos como aquele e observou riscos em meio ao vermelho, como marquinhas de dentes – Ei! Por acaso abelhas picam com os dentes? Achei que usassem ferrões... Lua Blanco você anda saindo com um vampiro e não me disse nada?!
Como ela apenas sorriu e não respondeu, Sophia voltou a falar em tom de brincadeira – Porque se for assim eu acho bom você não virar uma também! Eu já tenho medo de você naturalmente e...
- Eu tava com ele.
- Quem? Vampiro?
- Arthur.
- Como assim? Arthur Aguiar?
- É Sophia... Tem outro Arthur que a gente conheça?
- Era mais fácil ser outro do que ser aquele!
- Tudo bem que foi meio estranho mesmo, mas é verdade.
- Hum, ele te deu essas chupadinhas no pescoço?
- Uhum.
- E aposto que você arranhou as costas dele com suas unhas compridas e sexies, né?
- É rs! – Lua concordou sorrindo e tampando o rosto.
- Você ficou a tarde toda numa boa lá? JESUS! VOCÊ NÃO O MATOU DEPOIS, NÉ? – Sophia sacudiu-lhe os ombros.
- E por que você acha que eu to fugindo pro Canadá amanhã?
- Puxa amiga, que pena ele era tão bonitinho e jovem...
- É né... Mas falando sério agora, foi uma tarde boa. Eu não devia ter feito, mas foi incrível.
- Me conta! Vai contar ou vai ficar enrolando?
- Calma! É que foi assim, eu fui lá devolver o porta-retrato que ele me deu. Quando cheguei, ouvi pela porta que a Delilah tava lá e eles estavam discutindo.
- Sério?! Ela te viu de novo? Vocês brigaram outra vez? Ela foi pro hospital? AAHH VOCÊ A MATOU! COMO FEZ? EMPURROU PELA JANELA? CÉUS! JESUS, MARIA E...
- HEEEY! Não fica tentando adivinhar amiga, você não é boa nisso!
- E você é uma desagradável... mas continue.
- Primeiro: realize que eu não matei ninguém, ok? E segundo: ela não me viu.
- Ah, sem assassinatos? Que sem graça.
- Melhor sem graça do que presa não acha não?! Mas enfim... eu escutei a conversa deles todinha e você não faz idéia do fora que ele deu nela! Eu me senti até vingada, foi melhor do que nos meus sonhos!
- Que lindo! E aí Arthur a empurrou numa banheira de ácido clorosulfônico, você entrou e tacou um beijo apaixonado nele enquanto ela gritava de dor! [n/a: explico o ácido clorosulfônico na nota final do capítulo]
- WTF?! Ácido o que? Banheira? Olha... até que não seria ruim, mas o que foi que eu disse sobre as suas adivinhações mesmo?
- Ah, é que você enrola muito pra contar as coisas! Necessito saber!
- Ta! Ela foi embora aos berros com ele e até o Micael surgiu do nada pra esculachar com ela, você tinha que ver!
- Ahh o meu lindo Micael... Como estava o cabelo dele essa tarde? Pra frente? Pra trás? Pro lado? Ah, já sei! Pra cima, né?
- Olha o foco, Sophia! Você quer que eu continue a contar ou não?
- Ah sim, continue!
- Então eu dei um tempinho e fui falar com o Arthur. Ele demorou pra abrir a porta, acho que pensou que fosse a Delilah de novo! Aí nós discutimos um pouco depois que eu entreguei o porta-retrato. Ele disse que eu estou com raiva dele, então eu disse que não o odeio e ele disse que odeio sim, que eu o odeio e ele me ama.
- Ain... E você?
- Não sei, acho que no fundo eu tinha ido lá querendo me despedir de alguma forma. Olhei o rosto dele pra decorar cada pedacinho. Quando eu já estava pra ir embora ele me beijou e eu aceitei.
- Nossa, quem diria!
- Ah, Sophia! Eu não sou essa durona que todo mundo ta pensando! Eu gosto de estar com ele sim e foi bom ter uma lembrança agradável pra recordar. É melhor levar a lembrança de uma tarde ótima do que rancor nas bagagens, não é?!
- Se gosta dele, por que não voltaram?
- Não, eu não disse que gosto dele. Disse que gosto de estar com ele.
- Não é a mesma coisa?
- Não. Eu não posso explicar isso, mas teve de ser assim e ponto, Soph.
- E ele sabe que vocês não voltaram?
- Ele achou que tínhamos voltado. Aí eu dei um jeito pra ele perceber que eu ainda vou viajar.
- AI CÉUS! QUE VOCÊ FEZ COM ELE?
- EU NÃO CAUSEI NENHUM DANO FÍSICO! Já deu pra entender?! Eu só saí dizendo que a gente tem uma boa química na cama, mas nem por isso ele é insubstituível!
- E ele?
- Ficou lá com aquela cara que você conhece. Reconheço que me deu um pouco de pena, mas foi o certo.
- Por que isso foi o certo? E por que você não pode me explicar? Eu não sou o Arthur! Explique pra mim! Conte suas razões que eu vou apenas escutar e entender. Eu quero acreditar que você tem um bom motivo pra deixá-lo pra trás, Lu! Você ama aquele homem e tudo que tem a ver com ele! Eu te conheço. Você acredita em romances por causa de Arthur Aguiar. Ele já provou que nunca mais vai tocar na Debruxa, então por que não esquece tudo?
Sophia freqüentemente se deixa emocionar. Cada palavra que nasceu na garganta dela saiu com dose extra-especial de emoção na voz. Quando isso acontece, ela consegue tocar a melhor amiga. Lua sentiu o rosto esquentar e os olhos produzirem cada vez mais lágrimas, que já estavam disputando por espaço dentro deles. Ela não queria deixá-las cair outra vez hoje.
- É pro bem de todo mundo.
- Mas por quê? O que vai acontecer?
Lu apenas pensou um pouco. Achou bom não guardar todos os problemas sozinha e resolveu falar. Olhou bem nos olhos da amiga, como se a voz fosse sair por eles. Depois falou um nome:
- Delilah.
- Lu! O que essa menina ta fazendo com você? Me conta porque eu juro que bato nela!
- Algumas ameaças a mim, ao Arthur, e...
- E...
- Ai amiga! Ela acha que eu to grávida porque me viu comprar um teste! – Lua se desabou no ombro da amiga.


Play Lua’s Flash Back


Domingo à tarde, após Eric ir embora, eu fiquei um bom tempo sentada na calçada de casa. Estava com o celular na mão, mas ele ficou desligado enquanto eu conversava com Eric. Resolvi ligar pra ouvir música e veio o aviso que tinha algumas mensagens de texto pra ler. Eu não devia ter aberto. Não devia.


•Mensagem 1•
Olá Lua. Peguei seu nº
no cel do Arthur, espero
que não se importe.
Quero falar com você.
vc já deve saber que é a Lilah... Me ligue o quanto antes.


•Mensagem 2•
Que parte do me ligue o quanto antes
vc não entendeu?


•Mensagem 3•
O tempo ta passando Luazinha
e eu to ficando irritada. Vc nunca me viu irritada. Não queira ver.


Não respondi nenhuma delas. O que essa retardada quer? Ser enfiada no ponche de novo? Se isso chegar a acontecer eu não vou tirá-la de lá após alguns segundos, não mesmo! Imaginei que devia ser apenas uma brincadeira irritante e coloquei meus fones pra ouvir música. Não sei ao certo quanto tempo se passou, mas foi um longo período sem a musiquinha chata de novas mensagens me interromper.
Porém, quando entrei em casa e fui pro meu quarto tomar banho, bastou colocar o celular em cima da penteadeira e ele começou a vibrar. Um toque engraçadinho fazia conjunto com as vibrações e o meu coração se remexeu lá dentro. Se apertou. Bateu mais devagar, era o medo.
E ele estava certo ao se assustar, mais Delilah:


•Mensagem 4•
Por que não ligou? Ta achando que é
brincadeira? Acredite, eu não gosto de
ficar entrando em contato com vc, sua nojenta.
Eu falo serio.

•Mensagem 5•
Por acaso o meu nº não aparece
no fim da mensagem?
Ou será que vc ta com medo de mim?
A minha voz te assusta?

•Mensagem 6•
O que será que mais te assusta em mim,
Luzinha?
Hmm... com certeza são as coisas
que EU SEI de vc!

•Mensagem 7•
Duvida que eu sei mais do que vc imagina?
Por que não vem tirar essa dúvida amanhã?

•Mensagem 8•
2 da tarde no Mcdonald's que fica perto
da London Eye. Não vou dizer o que vai
acontecer se vc não for pq vão acabar os caracteres...

Stop Lua’s Flash Back


Lua mostrou as mensagens ainda guardadas no celular. Sophia ficou pasma.
- Que tenso! Você foi?
- Eu fiquei nervosa, ansiosa, curiosa... tentei não pensar nisso e me concentrar só nas coisas pra viagem, mas eu acabei indo.


Play Lua's Flash Back


Eu avistei aquela vaca sentada de costas para a entrada. Por que eu não trouxe a poncheira da minha mãe pra afogá-la de uma vez? Que garota encrenqueira! Olha as porcarias que o Arthur arranja. Num vou nem comentar. Em último caso, afogo ela no milkshake, é!
- Finalmente. Achei que tivesse morrido.
- Por quê? Você pediu minha cabeça ao papai noel?
- Na verdade eu pedi que te carregasse pra longe, mas se você prefere o inferno mesmo...
- Quem vai para o inferno são pessoas como você, que infernizam a vida dos outros. E fala logo o que é que você quer pra terminar com isso.
- Não fale nesse tom de voz comigo. Você ainda não entendeu, quem está por cima aqui sou eu.
- Você? Por cima de mim? Ah eu não suportaria teu peso, você ta ficando meio gordinha.
- Você pode dizer que eu sou gordinha agora, mas eu sei que daqui a uns sete meses e algumas semanas, a BOLA da vez será você!
Notei minha própria expressão ficando séria repentinamente. Os olhos se abriram um pouco mais e meu coração pareceu parar de funcionar por alguns segundos. Greve temporária de sentidos. Que merda.
- O que? Já paralisou assim? Então eu acertei! Foi mais fácil do que eu pensei...
- Do que você ta falando? – eu respirei fundo e falei com calma, tentando não gaguejar ou tropeçar nas palavras. Ela olhou pro meu rosto, acho que fiquei pálida.
- Calma Lua, respire! Você não quer matar essa cabeça de ervilha que ta aí, né?!
- Porra! O que é que você ta falando?! – eu fiquei nervosa e bati com o punho cerrado na mesa. Algumas pessoas olharam e eu procurei manter a calma.
- Eu te vi comprando um teste. A mim você não engana! Todo mundo sabe que você voltou a ver o Peter, e tem aquele Matt, e o esquisito... Eric! Arthur sabe que você andou por aí com todos eles recentemente então não seria difícil pra ele acreditar que você ta gerando um Pete, Matt ou Eric Jr!
- Não seja ridícula! Quem é que vai dizer isso pra ele? Você? Isso aqui não é novela, ele acreditaria em mim.
- Ah, mas isso é só uma parte do meu presente, Lua!
- Cara, você é muito ridícula – ao mesmo tempo que eu balançava o rosto para os lados, meu sorriso indignado não conseguia se fechar. Que idéia louca é essa agora?! Só o que me faltava!
- Sabe Lu, essa vidinha do tamanho de um grão de poeira que está aí em você é algo extremamente frágil. Mais do que qualquer outra coisa... É muito fácil perder uma merdinha dessas no início, muito comum.
- FALA... hm... – eu ia gritar de novo, mas me controlei. Ela estava ameaçando a minha possível gravidez? Precisei falar entre os dentes pra não sair alto. Raiva. – Fala coisa com coisa, miserável.
- Já ouvi dizer que grávidas não são seres humanos, são inferiores. Ficam frágeis, emocionais, perturbadas, nojentas... E pensar que isso é o sonho de algumas mulheres! Um sonho medíocre e pequeno.
- Eu não to grávida, imbecil.
- Não tente negar, ok? É pior. A sua reação já te entregou, confesso que tinha dúvidas, mas elas se foram junto com a sua palidez. Agora apenas preste atenção na proposta de negócio que vou te fazer!
- Você é muito estranha. Fala logo o que quer, vai...
- Você pode ir e carregar contigo toda a sua mediocridade em forma de barriga para o Canadá. Fica com o seu nojentinho lá, mas ninguém pode tomar conhecimento disso aqui.
- E se eu não quiser fazer isso?
- Eu vou ser obrigada a fazer uma vítima que nem está neste mundo... – Lilah tirou um canivete do bolso e pôs sobre a mesa discretamente. Agora me assustei de verdade! Posso correr dessa louca?
- Você não faria isso! É só uma vadia inútil, não uma criminosa!
- Pode até ser que eu não fizesse, mas o meu irmão drogado e seus amigos favelados fariam. E eles teriam o maior prazer! Acho que eu precisaria segurá-los pra eles não te matarem também! Se bem que você nem faria muita falta no mundo...
- Vou contratar guardas pra ficarem na minha casa!
- Não adianta, você não pode fazer nada. Se não te pegarmos, podemos pegar o Arthur. Tenho certeza que meu irmão sozinho poderia arrebentá-lo inteiro!
- Arrebentar o Arthur? Mas que porra é essa? Como você gosta dele desse jeito? Que filha da puta!
- Foda-se. Você estava certa, eu não gosto dele por completo, apenas algumas partes dele. A conta bancária, os carros, o sucesso... Quer dizer, eu gosto dele, mas não ficaria, nem lutaria por ele se ele não fosse quem é.
Merda! Merda! Merda! Puta que o pariu! Que vontade de voar no pescoço dessa vadia. Me segura!
- Não tem um centímetro de você que preste! Você é como um alimento podre!
- E daí? O Arthur já me comeu e gostou.
Duas palavras: QUE-NOJO!
- Chega! Meu estomago ta embrulhando de ficar aqui com você.
- Como se fosse muito agradável pra mim te suportar. Olha, eu só to pedindo pra você ir numa boa pra onde você quiser. Contanto que seja longe o suficiente pra eu poder te apagar da memória do Arthur. Caso contrário eu terei muitas alternativas pra acabar com todo o seu mundinho de filmes românticos pré-adolescentes. Você teria um lindo aborto e o Arthur nem ia mais querer te ver por achar que o filho não era dele. Acredite, seria fácil fazê-lo pensar isso! Nem eu mesma sei se é! Ou então, se nós não conseguirmos pegar você, eu tenho certeza que os amiguinhos do meu irmão adorariam assaltar o apartamento de um mcguy! Seria hilário se saísse no jornal pra eu...
- Certo, certo. Pare de falar, que coisa irritante essa sua voz! Você não vai precisar se dar ao trabalho. Eu vou me mudar e você fica aí tentando agarrar o Arthur. Só não garanto que você tenha condições de conseguir isso, ele já se tocou que você não passa de...
- Poupe suas palavras e sua imaginação pra me elogiar. E não se aproxime dele durante essa semana. Acho que você já entendeu o trato.


Stop Lua's Flash Back


- Meu Deus Lu! Você precisa chamar a polícia!
- Não Soph. Não tenho provas suficientes da ameaça.
- E-e-então nós precisamos... nós precisamos...
- Calma Soph! Vai ficar tudo bem! Eu vou pro Canadá e nada acontece.
- Mas... mas... você não quer ir e... AH MEU DEUS! VOCÊ TA GRÁVIDA!
- Shush! Cara, a vizinhança não sabe, ta? Na verdade nem eu sei! Comprei o maldito teste após uma conversa estranha com a minha mãe. Ela tava suspeitando disso e eu falei pra ela que tinha certeza que não estava porque minha menstruação estava em dia. Só que eu menti. A minha incomodação não tinha chegado e eu achei que podia ser um atraso normal, não estava preocupada, mas resolvi comprar o teste. E não tive coragem de fazê-lo ainda.
- Menina! Vai correndo fazer esse teste! Se você não estiver, pode acabar com os planos da Delilah!
- Não, é pior! Esqueceu que se ela não puder me atingir vai atacar o Arthur? Eu tenho que me afastar de qualquer jeito. E acho que consegui me afastar ao máximo essa tarde, mesmo não saindo do país.
- Por quê?
- Disse muitas coisas pra ele. Bem depois que a gente, err... teve bons momentos! Pessoas ficam sensíveis depois de transar. Ele fica hiper-sensível e fofo! Eu acabei com ele! O que eu fiz e o que eu disse foi pior do que brigar ou ficar indiferente. Eu o fiz subir numa montanha bem alta, pra tocar numa nuvem e depois empurrá-lo ao chão. Mas era o único jeito Sophia! Se eu não fizesse isso a gente ia se aproximar de novo!
- Tadinho, Lu! Aquele garoto é louco por você...
- Eu sei... mas é melhor ficarmos inteiros, não acha?
- É.
- Eu vou pro Canadá e vou começar uma vida nova lá! Não preciso do Arthur na minha vida! Se a gente não pode ficar junto eu vou ser feliz de qualquer jeito, não importa!
- Acho que depois de hoje você não vai continuar pensando assim... – Sophia pensou um pouco alto e Lua ouviu, mas não entendeu.
- Quê?
- Ah, você viver feliz é o mais importante pra mim.
Lua mordeu a boca olhando pro chão e nenhuma das duas falou mais nada. O celular de Sophia tocou e era Micael dizendo pra ela ir logo.
- É o Micael. Eu vou... se você não se importa...
- Tudo bem Soph! Vai sair com o Micael numa boa!
- Você vai ficar bem aí?
- Vou.
- Sem matar? Sem fugir? Sem banheiras de ácido?
- Só se for pra Delilah!
- Ótimo. Assiste tv pra descontrair, você ta muito tensa! Hoje tem aquele programa que você gosta, né?
- É, o programa da Cora.
- Então... Assiste a Cora e as meninas estarão de volta antes de amanhecer, eu acho!
Lua a acompanhou até a porta e elas se despediram. A noite solitária estava só começando e ia ser longa.




Quando Arthur e seus amigos chegaram, eles viram um palco armado no meio do parque. Era pequeno porém muito bonito. Todos ficaram sem fôlego por uns segundos. Antes que começasse o programa, Arthur testou instrumentos, microfones, não queria nenhum imprevisto na hora H.
Um tempo depois, Sophia e Micael finalmente chegaram e tiveram a mesma reação ao ver toda a decoração do ambiente. Aquele simples parque no centro da cidade nunca esteve daquele jeito.
- Tudo certo? A Lua vai ficar em casa? – Arthur se aproximou deles. Sophia ficou durante o caminho todo até lá pensando em como essa noite poderia mudar a decisão de Lua, ou mesmo que ela não mudasse, iria torturá-la bastante. Ela também tinha uma decisão a fazer, podia contar tudo pra Arthur, mas teve medo de causar outra tragédia. Então deixou tudo rolar naturalmente e se comportou como os outros, feliz.
- Ah, sim. A gente conversou bastante, por isso o atraso, desculpem! Ela contou sobre hoje à tarde... – Soph quis ver a reação de Arthur e olhou pra ele.
- Ma-mas ela vai ficar bem sozinha? – Arthur coçou a orelha em sinal de nervosismo.
- Claro né Aguiar! Ela não tem mais dez anos! – Sophia falou rindo. Todos foram convidados a entrar num trailer colocado pela produção do programa, para que eles pudessem assistir as partes que já foram gravadas.
- E você tem certeza que ela vai assistir? – agora Arthur ia sendo empurrado pelos ombros até a porta do veículo, por uma Rayana impaciente.
- Vai, Arthur... vai sim. Ela sempre assiste a Cora quando por acaso está em casa numa quarta-feira à noite. Ta bom? Satisfeito? Agora sossega o facho e entra aí!
Todos se acomodaram no sofá do trailer e esperavam ansiosos pelo começo do programa. As meninas já sabiam que Arthur tinha falado coisas tocantes sobre ele e Lua na entrevista. O plano era fazê-la assistir em casa enquanto eles assistiam lá e assim os dois ficariam juntos de vez.


[n/a: partes em itálico aqui é o que se passa na televisão]


- Aí eu comecei a sentir um grande incomodo dentro de mim...
- O que? Arrependimento?
- Não... gases. [risadas de fundo]
Lua assistia um programa humorístico entediada no sofá 'Queria eu estar com dor de gases. O que me incomoda é muito mais do que isso. Tudo pronto pra eu viajar amanhã e do nada eu começo a ouvir uma voz irritante dizendo o tempo todo que e não devia seguir com esse plano! E por que isso agora? Será que a Delilah já não foi ameaçadora o suficiente? Ou será que é uma premonição e o avião vai cair no meio do Oceano Atlântico?! Aposto que se eu perguntar isso aquela vozinha não vai saber responder. E é mais provável que ela (ou eu?!) não queira viajar por medo de assumir a derrota para aquela vaca, não por medo de acidente. E chega desse assunto, eu to com fome! Droga, não tem sorvete. Não tem batata frita. Não tem um mísero copinho de Nutella. Não tem pipoca de bacon. Eu acho que vou comprar alguma coisa, uma ansiedade tomou conta de mim e quando eu to assim preciso comer coisas calóricas e fingir que os kibes são meus amigos.’ Lua pensava enquanto revirava os armários e a geladeira. Ela subiu ao quarto e parou um pouco encostada na porta, não estava se sentindo bem. Há muito tempo não tinha uma dor de cabeça com tonturas daquele jeito, algo estava errado e ela não sabia o que era. Uma dor fraca que faria qualquer um acreditar que precisa ir dormir. Quando ela achou que a dorzinha estava passando e se desencostou da porta, sentiu um refluxo vindo do estômago. Uma substância quente subiu o esôfago em alta velocidade queimando tudo e Lua precisou correr para o banheiro. ‘Acho que eu usei demais o meu cérebro pensando nessa viagem! Eu preciso é de ar fresco.’ A dor de cabeça aliviou consideravelmente após vomitar. Ela escovou os dentes, ajeitou o cabelo e foi pegar um casaco. Depois calçou botas, pegou sua bolsa e saiu. Esqueceu de desligar a tv da sala.




- Caramba, não vejo a hora de ouvir o que Arthur disse! – Sophia batia palminhas feito criança. Continuaram no trailer todo esse tempo.
- Ele disse um monte de coisas gays, aposto que toda criatura do sexo feminino vai adorar! – Pedro disse depois de tomar um gole de cerveja e Ray deu um tapa no braço dele.
- Aposto que deve ter sido lindo, Aguiar! Mesmo sem ter escutado ainda, eu já acho que você ta merecendo uma chance. – Rayana sorriu vendo o amigo ficar mais nervoso diante da proximidade da hora do programa começar.
- Relaxa Arthur! Você vai ver como ela vai te ligar assim que o programa acabar! – Melanie bagunçou-lhe os cabelos e ele sorriu olhando algum ponto fixo.
- E logo ela vai vir pra cá e você vai olhar pra ela de cima do palco – Rayana continuou a falar como acha que as coisas vão acontecer – você vai estender a mão pra ela, ela sobe, vocês se olham um pouco, depois se atracam um no outro e são aplaudidos e...
- Ta bom, Ray, ele já entendeu que vai ser o máximo! – Sophia jogou a tampinha do batom que segurava nela.


Lua andava pela rua observando as luzes. “Luzes de Quarta à noite” pode não soar tão convidativo quanto “Luzes de Sexta à noite”, mas já que essa poderia ser sua última noite naquele país, até se fossem as luzes de segunda-feira serviriam. A idéia da viagem começou a perder força de repente. Havia alguma coisa dentro dela que dizia pra não ir, que Delilah estava blefando. ‘E mais uma vez eu venho andar na rua pra tentar relaxar, me distrair com alguma coisa. Em circunstâncias normais, andar sozinha pela rua sentindo o vento que passa brincando com os cabelos é... normal. Mas quando se têm problemas pra resolver e decisões difíceis, uma simples caminhada dessas pode se tornar uma cena dramática e emo. Tudo depende do que se passa dentro da cabeça da pessoa. Os ventos que estão na minha cabeça são cortantes como esses aqui de fora. Acho que está mais pra furacão. Antes eu estava com muita raiva do Arthur e queria viajar. Depois a raiva foi passando. Aí vem a suspeita de uma gravidez... Agora eu não quero viajar, mas estou sendo forçada à isso. Se não fossem as ameaças da Delilah, eu certamente não viajaria mais. Essa idéia foi perdendo força e ela simplesmente caiu de vez depois que eu fiquei com Arthur hoje. Porra eu amo aquele cara! Se eu desisti de me mudar, foi porque eu imaginei minha vida lá sem o Arthur. E quer saber? Ela seria como uma rua com todos os semáforos no verde sem nenhum carro pra passar... Puxa ou eu sou muito filósofa ou muito retardada, que tal?! Certo, pode me internar! Que seja! Eu só ficaria aqui se tivesse certeza que a Delilah não vai cumprir as ameaças, mas quem me dá essa certeza? Quem vai proteger o Arthur de um "assalto no apartamento"? E eu então?! E minha possível gravidez? Eu nem sei se isso é verdade porque sou uma covarde que nem tive coragem pra fazer o teste e ver o resultado positivo. E o pior é que independente disso, se eu não seguir o plano dela, o estrago pode ser grande de qualquer jeito! Com ou sem gravidez, porque como eu disse pra Sophia, se ela não puder agredir o bebê, a segunda alternativa é o Arthur. E eu não posso nem pensar em vê-lo morrendo por minha culpa. Ah, essa mudança precisa acontecer. Não tem como ser diferente. Amanhã eu viajo e vou levar minha vida como puder lá no Canadá, mas eu ainda volto! Ah se volto!'

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